O Grupo de Reflexão (G7) constituído por militantes que apoiam a intenção de candidatura de Abubacar Demba Dahaba, para o cargo de Secretário Nacional promoveu uma conferência de imprensa dia 18 de Outubro para posicionar sobre a actual situação vigente na preparação do VIII Congresso do Partido Africano para Independência da Guiné e Cabo Verde. O acto serviu para Abel da Silva, um dos elementos do Grupo de Reflexão chamar atenção a direcção do Partido sobre aquilo que considerou de manobras dilatórias para adiar a reunião magna do partido. Segundo ele, os pretensos candidatos devem respeitar o compromisso assumido durante a reunião do Comité Central, que deliberou a divulgação do Projecto de Estatutos que prevê a separação de poderes no seio do partido. De igual modo acusou os restantes pretensos candidatos de estarem a opor o modelo adoptado no Comité Central, porque querem ser superpoderosos.

A reacção do G7 que apoia a candidatura de Abubacar Demba Dahaba surgiu dias depois do Conselho de Verificação e de Jurisdição do Partido ter suspendido as assembleias sectoriais em algumas zonas do país devido as impugnações, mas principalmente o facto de certas candidaturas, terem manifestado vitoriosos nas conferências sectoriais.

O assunto acabou por ser tema de começada da conversa com os Jornalistas, e Abel da Silva considerou aquele procedimento de inédito, mas demonstrativo de insuficiência estratégica dos seus futuros adversários. “É Verdade que neste momento estamos a preparar a realização do Congresso através da realização das conferências de base, secções e sectoriais. Estão a serem mal realizadas. Estamos a assistir comportamentos por parte das pessoas que alegam quererem liderar o partido, totalmente antagónicos a forma de funcionar do PAIGC. O nosso desejo é ter um PAIGC unido e forte para vencer as eleições”, afirmou.

Nas suas declarações, Abel da Silva foi peremptório a afirmar que, a forma como alguns pretensos candidatos estão a comportar, está a empurrar o partido para um perigo. “Não estamos aqui para condenar ninguém. O que queremos é advertir as pessoas para assumirmos um rumo certo. E rumo certo é proceder com normas que ajudam o partido e não assumir comportamentos que acabam por prejudicar-nos a todos”, alertou.

Os comportamentos inadequados, segundo ele, são aliciamentos verificados em algumas conferências, tanto nas bases, secções e sectores. “Mas o mais grave de tudo isso, é a publicação de resultados a favor de alguns projectos políticos que visam concorrer no congresso. Estão estranhamente a comportar como se estivéssemos nas legislativas ou nas autarquias! Uns dizem que conquistaram 32 Comissões Políticas, outros 25. Mas afinal, quantos sectores temos no país”, questionou. Ele que fez questão de responder a sua pergunta afirmando que existem apenas 44 sectores, não hesitou em afirmar que os seus opositores estão a desinformar e a enganar os militantes. “Desinformação começa nos números que avançar. E nas suas contas, em vez de 44, temos 57 sectores. Isso é falso”, qualificou, aconselhando os elementos de outros projectos a deixarem de falsificar os dados. “É bom que as pessoas digam verdade aos militantes. Temos que ser realistas com cenários existentes. Quem engana os militantes, vai sem dúvidas enganar o povo amanhã”, insistiu.

Conforme os membros do projecto G7, está em curso uma campanha publicista jamais vista no PAIGC. “Se na verdade são verdadeiros militantes, é bom que pautem pelo sistema interno do partido. Divulgação dos resultados, é sinal de que, as zonas que eles consideraram como não apoiantes serão excluídas depois por aquele projecto de candidatura. E isso é mau para o PAIGC”.

Da Silva aproveitou para esclarecer a aqueles que assumiram a essas atitudes que, não estão a ajudar, sobretudo naquilo que é colectivo. “As comissões políticas não são dos candidatos. São do PAIGC. E PAIGC não é de ninguém. É um projecto dos seus militantes. E quando e quando se faz conotação dos resultados com pessoas, é porque estamos perante um perigo. Mas, o mais grave é que os resultados são falsos. Porque existem outros projectos. Existe o G7 e a Plataforma. Querem dizer que estes são zero? Não conquistaram nada?”, perguntou, repetindo o apelo de todos deixarem de dar dados falsos aos militantes e ao povo.

Numa outra denúncia, Abel da Silva revelou terem informações de que existem pessoas a fomentar o tribalismo nessas candidaturas. “Isso é extremamente perigoso. Porquê é que vamos fomentar candidaturas nas bases, secções e sectores com argumentos tribais. Queremos chamar atenção aos nossos dirigentes que estão a fazer ou a patrocinar este trabalho de desinformação para não rebentarem com o PAIGC”.

O primeiro mal que estas atitudes causou ao partido na visão de Abel da Silva, são as impugnações que deram entrada no Conselho Nacional de Jurisdição. Nas suas explicações, o problema aconteceu exactamente através dos métodos de votos. Braços levantados. Na opinião de Abel, quem aliciou os militantes vai exigir braços levantados para ter a certeza se quem tomou o dinheiro votou. “O que queremos que a direcção do partido faça é colocar urnas lá onde devem estar. Isso é que queremos”, sublinhou, porque é a única forma de fazer um trabalho transparente e evitar a contradição entre os militantes.

 

“O Comité Central aprovou a descentralização de poderes. Porque razão resistir”

No que diz respeito ao último Comité Central e as decisões nele saídas, Abel da Silva começou por esclarecer que, estava-se perante o artigo 106, nº 2 que diz que em todos os Congressos ordinários os Estatutos devem ser revistos. “No Bureau Político e no Comité Central, todos os militantes do PAIGC que nele participaram sentiram uma tendência para a revisão dos Estatutos e para a Separação de poderes. E como se isso não bastasse, a Direcção do partido decidiu chamar os pretensos candidatos (não são candidatos, porque ainda não obedeceram o artº 36, nº 1. Isto é serem legitimados pelo CNJ do partido. É ele que analisa, perfil e critérios) para um encontro onde assinaram um compromisso. Qual é o compromisso? Todos aceitaram que os Estatutos devem ser revistos. Todos aceitaram que devemos separar os poderes na lógica de descentralização e desconcentração numa só figura. Todos aqueles que pretendem candidatar assinaram. Só que depois de saírem da sala consideraram que aquela assinatura não presta. É uma atitude intolerável, porque se ganharem depois, não vão respeitar os compromissos”, condenou Abel da Silva.

No entender de Abel da Silva, certos pretensos candidatos estão com o problema de coerência, dignidade e responsabilidade. “Isto nos preocupa bastante e leva-nos a alertar aos nossos camaradas para estarem com muita atenção sobre a forma como as pessoas estão a proceder. Quem quer a liderança, tem de ser uma pessoa com muita idoneidade. O que está a acontecer é triste, porque certas pessoas, certos pretensos candidatos assinaram um documento e não querem respeitá-lo”, denunciou.

"Se não adotarmos bons Estatutos, não restam dúvidas que certas pessoas vão pretender ser donos do PAIGC"
Da Silva não concordou com as vozes que alegam que o problema do PAIGC não está nos Estatutos. Advertiu que, quando os Estatutos dão todos os poderes a uma pessoa, porque mais que não queira, acaba por concentrar tudo. “Todos nós já ouvimos da boca dos juristas que, más leis facilitam conflitos. E se continuarmos com os Estatutos tal como estão, não restam dúvidas que teremos problemas. Nos estatutos actuais, o presidente preside todos os órgãos, Comité Central, Bureau Político e demais outros. Até no Conselho de Jurisdição tem poderes. O secretariado Nacional é presidido pelo Presidente do Partido e o secretário não passa de um menino de mandado. As suas ideias não são tidas em nada. Digam-me uma coisa: nestas condições, quem pode resistir?”, indagou.

Conforme ele, na descentralização dos poderes que se quer para o PAIGC, o presidente deve ficar apenas nos órgãos onde se deve prestar as contas. O Bureau Político e o Comité Central. “E nesta óptica, o Secretário Nacional seria máquina do partido, e presta contas aos órgãos que estávamos a referir. Se o PAIGC ganhar as eleições, ele também pode concorrer ao cargo de Primeiro-ministro e posteriormente prestar as contas. Isso é que defendemos no G7. Mas hoje, não compreendemos, do quê é que as pessoas têm medo. Desafiamos hoje a todos aqueles que querem ser Primeiro-ministro apoiado pelo PAIGC que aceitem ir as funções de Secretário Nacional para depois poderem prestar contas”, exclamou, Abel da Silva.

O porta-voz do Grupo 7, numa clara indirecta aos restantes pretensos candidatos disse que se na verdade não dispõem de segundas intenções ou servir-se do partido, não devem temer nada. “Sabemos claramente do quê é que as pessoas temem: Prestação de contas. Alguns dos pretensos candidatos estão a opor-se a separação de poderes, porque querem ser todo-poderoso no partido”, acusou, acrescentando que alguns deles querem ser donos do PAIGC. “Não permitamos nunca mais que alguém seja dono do PAIGC. Mas para que o PAIGC não tenha dono, nós devemos criar estrutura para tal”, aconselhou Abel da Silva.